Está a sentir que a sua empresa está já a começar a sofrer os efeitos da crise económica? Sente que as vendas ou as encomendas começaram a cair e antevê problemas em breve? Isso significa que tem de tomar medidas. Medidas comerciais, financeiras, mas também e sobretudo, jurídicas ou com impacto jurídico na sua estrutura empresarial.
Deve fazê-lo o quanto antes porque, também aqui, isso é importante e fundamental para a sobrevivência da sua empresa, das suas perspetivas pessoais e das da sua família. Deixamos aqui alguns conselhos que deve discutir e ponderar (se isso for preciso…) com os seus advogados, os seus consultores financeiros, a sua empresa de contabilidade, a sua família.
A organização da sua empresa é uma “pescadinha de rabo na boca” e, por isso, deve ter noção que todas as medidas que aplicar têm um impacto na estrutura e nos seus múltiplos segmentos. Se não tiver isto em conta no seu planeamento, os problemas serão ainda maiores e mais penosos de superar.
- Reorganize os seus Recursos Humanos.
É normal que, num momento de forte atividade económica, a sua empresa tenha contratado. Afinal de contas, as encomendas e as vendas justificavam esse incremento e impunham um aumento na resposta que tinha que dar aos seus clientes. O problema é que esse cenário mudou. Essa alteração fará com que tenha de repensar o quadro de pessoal da sua empresa.
É por isso fundamental repensar os trabalhadores que terá de dispensar ou que terão de se readaptar às novas funções que o seu plano irá determinar. Por exemplo, se a sua empresa apenas tem uma empregada administrativa, ela tem de ser capaz de realizar todas as tarefas que lhe são inerentes mas, de igual modo, ter capacidade de cobrar clientes, gerir as cobranças dos seus fornecedores e perceber minimamente da tesouraria da empresa.
Os trabalhadores que não puder manter na sua estrutura ou que não se adaptem às mudanças que pretende implementar, poderão ter de ser alvo de um despedimento coletivo ou, no âmbito de uma das medidas do CIRE, deixarem de colaborar com a empresa. E não se martirize demasiado porque, felizmente, em Portugal, os trabalhadores têm proteção social em caso de despedimento, contrariamente ao que acontece noutros países. Afinal de contas, todos os meses paga contribuições para quê?
- Repense o negócio de “fio a pavio”.
Todas as crises económicas são momentos de oportunidades. Novos negócios, novas formas de desenvolver os negócios existentes, maneiras mais criativas de reagir perante as adversidades, alterações e afinações na produção, distribuição e pós-venda. Normalmente, as oportunidades, quando bem aproveitas, ou geram mais dinheiro ou fazem com que poupe mais dinheiro.
É por isso que é importante que repense a sua empresa e o seu ciclo produtivo. Isso deve começar por si mas deve envolver as melhores pessoas que trabalham consigo. Eventualmente, poderá contratar um consultor que, analisando o negócio “de fora”, lhe dê inputs que são valiosos. Tem de estar aberto à mudança ou a morte da empresa é certa. Veja bem a quantidade de restaurantes que, antes da pandemia de COVID-19 não faziam take away e agora fazem e até o realizam com a Uber Eats! Foi preciso uma pandemia para eles darem um passo que já podiam ter dado há muito e que certamente lhes teria incrementado as vendas.
- Não tenha medo de investir… se isso fizer sentido!
As crises económicas são, muitas vezes, os momentos ideais para uma empresa fazer investimentos. Não apenas porque beneficiam de uma redução de custos decorrente da quebra generalizada de preços (oferta e procura, lembre-se!) mas igualmente, porque é nos momentos de crise que faz sentido investir para superar a tormenta. Lembre-se da formiga que acumula no verão para consumir no inverno… Se está habituado a consumir tudo no “verão” (expansão económica), quando chegar o “inverno” (crise) não vai ter como superar o momento.
Se para si fizer sentido, se no seu plano de negócios fizer sentido, este é o momento para investir em maquinaria, I&D ou na contratação de trabalhadores que, pelas suas skills, façam sentido ter na empresa. Lembro-me perfeitamente de um pequeno negócio que sobreviveu à última crise económica pelo simples facto de ter criado um website e redes sociais, algo que para o dono era quase demoníaco antes disso…
- Mecanismos legais podem fazer a diferença.
O recurso, por parte de uma empresa ou empresário, ao RERE (Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas), ao PER (Plano Especial de Revitalização) ou ao Plano de Insolvência podem, muitas vezes, ser uma solução de médio/longo prazo que lhe permita assegurar a sobrevivência da empresa em tempo de crise.
Apesar de em Portugal ainda existir uma mentalidade muito empedernida relativamente a estas soluções, há bons exemplos de como o recurso a estas figuras legais pode ser a chave para a recuperação e o sucesso futuro de uma empresa. Em bom rigor, acaba por ser uma “terapia de choque” que tem impacto direto e por longos anos na empresa, incrementando os desafios a superar mas, também, facilitando de sobremaneira a implementação de medias extremas que, de outro modo, seriam impossíveis colocar em prática.
- Outras soluções para se manter
Existem outras soluções e alternativas que o seu plano de negócios pode contemplar tendo em vista manter a sua empresa no mercado e realizar todas as alterações, micro e macro, que tem de realizar.
Uma dessas alternativas passa pelo acolhimento de novos sócios, mediante a realização de um aumento de capital que será utilizado para a implementação das medidas do plano. Isso normalmente significa que poderá perder o controlo da empresa mas isso nem sempre é verdade… Há acordos parassociais, direitos especiais e contratos que podem ajudar a minimizar o impacto da entrada de novos sócios e a perda de “poder” associada a isso!
Uma outra alterativa passa pela captação de investimento. E aqui chegados, dependendo da dimensão da sua empresa, há soluções que fazem mais sentido de outras… Investidores, Bolsa de Valores, Fundos Nacionais e Comunitários públicos ou privados, mutualização, etc., são aspetos a ponderar com parcimónia.
Por fim, é mister referir que, nestas alturas de crise, aumentam as M&A (acrónimo inglês para Fusões e Aquisições) e o motivo é óbvio. Pode fazer sentido fundir-se com outras empresas do seu setor, com a mesma atividade ou com atividade complementar no seu segmento de negócio ou na cadeia de produção. Muitas vezes, isso gera sinergias importantes e conduz, automaticamente, a melhorias e ganhos de escala significativos.
Estes são apenas cinco dos múltiplos conselhos que, fazendo parte de uma equipa de profissionais de diversas áreas, lhe podemos dar. Aliás, não faz qualquer sentido que pense um plano de negócios para salvar a sua empresa sem contar com profissionais da área jurídica e da área económica, todos eles a trabalhar em conjunto para lhe apresentar as melhores soluções para o seu negócio.
Não tenha medo nesta nova etapa da sua vida e da da sua empresa. Lute pelos seus objetivos mas tenha em mente que não pode dar passos em falso. O tempo conta, o dinheiro é essencial e estar bem aconselhado também.